sexta-feira, 27 de maio de 2011

chaves do passado, não tão passado assim.

Seus cabelos finos, cacheados; acho que castanho escuro. Seus olhos, que não são verdes, furinhos na bochecha. Nunca mais lhe toquei, e você nunca ousou descer do seu falso pedestal. Você mal sabe como poderia ter o mundo nas mãos, só com o seu olhar, que mudava de cor dependendo do Sol. Da sua pele lisa, meio queimada de Sol. Sua voz quase que imatura, de moleque mimado. Filho mais novo, seus pais nem conheço. Seu irmão mais velho mora longe.
Dono de um mundo gigante dentro de casa, quase sempre é assim, quando a diferença de idade é explicita. Dono dos corações dos seus pais, que apesar da idade, mentiam os cabelos pintados, e não deixavam de medir esforços pra te limitar, ou talvez, te proteger do mundo. Dono do meu coração, que antes de você, era mal preparado. E depois de você, ficou mal tratado, amargurado, calejado, seleto, ou talvez perdido. Você era capaz de penetrar qualquer alma, qualquer pedra, qualquer ser de bom gosto. Cativava qualquer inocência adormecida dentro de mim. E apesar de você não saber, foram as palavras que saíram da sua boca que me prepararam pro mundo.

Não sei ao certo se queria você como amante, ou como amigo. Eu apenas o queria, talvez te resguardar do mundo, te colocando dentro de mim. Ou moldar você para mim. Eu o queria, com todas as minhas, pouca força. E talvez tenha sido esse o meu erro. Ninguém pode ser dono de um escorpiano, da mesma forma que ninguém pode ter um dragão. Essas espécies são raras, soltas, às vezes chinfrins, às vezes reis. Confundiam-me e me atormentavam. Tiraram o meu sono, e também a minha paz. Depois, acredito que a vida sentiu pena de mim, e queria me compensar de alguma forma. E essa forma foi aprender com você, o quanto eu te ensinei. E me marcar em você, da mesma forma que você marcou em mim. 

Vendo o resultado do seu jogo, vejo o quanto foi bom pra mim, e apenas pra mim, passar dias umedecidos de lágrimas. E ver o quanto o jogo mudou. E ver o quanto o jogo muda. E ver o quanto eu aprendi com você, coisas sobre mim. E isso ninguém mais conseguirá mudar. Hoje estou por cima, e talvez você nem saiba. Ou nem queira saber, como em várias outras vezes que você se negou. E você não cresceu, não aprendeu, não evoluiu como eu. Você um simples maldito-algoz maior de idade, e eu disposto a conseguir o que às vezes é impossível. E essa foi uma das coisas que aprendi sobre mim, querer o impossível. Mas hoje aprendi mais do que isso. Aprendi a conseguir, a conquistar, e deixar o impossível cada vez mais próximo. Tão próximo que minha mão possa tocar. E tão digestível que minha garganta possa engolir.